quarta-feira, 18 de abril de 2012

Empresário confirma esquema no Semasa

Proprietário da construtora Estate Plan Empreendimentos e Participações, Valter Ricardo Afonso, confirmou a existência de esquema de venda de licenças ambientais no Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André).

Foi a primeira vez que a confirmação do suposto esquema partiu de um empresário, o que fecha o ciclo denunciado pelo ex-diretor de Gestão Ambiental Roberto Tokuzumi. O relato também já havia sido detalhado pelo advogado Calixto Antônio Júnior, que não era funcionário da autarquia, mas atuava como um dos mentores do sistema.

O suposto esquema foi revelado pelo Diário no dia 4 de março. A Câmara abriu CPI no dia 8. "É um elemento corroborativo do que o Roberto (Tokuzumi) falou em depoimento", avaliou o delegado Gilmar Camargo Bessa, acerca do depoimento do empresário.

À Polícia Civil, na terça-feira, Valter Ricardo Afonso afirmou que, ao comparecer à autarquia para retirar o documento para dar sequência a um empreendimento, foi avisado pelo então diretor de Gestão Ambiental Roberto Tokuzumi que teria de pagar "pedágio" para emissão da licença. Tokuzumi, por sua vez, disse que a exigência partiu do superintendente adjunto, Dovilio Ferrari Filho, e de Eugênio Voltarelli Júnior, braço-direito do superintendente, Ângelo Pavin (PMDB).

Afonso disse que foi verificar o andamento da licença ambiental no Semasa e conversou diretamente com Tokuzumi, que saiu da sala e retornou dez minutos depois, dizendo que o documento só seria liberado mediante pagamento de "pedágio". "Ele (empresário) falou que envolvia pagamento de caixa de campanha. Garantiu que não pagou pelo documento e que não sabia para quem era esse suposto pagamento", explicou o delegado.

O documento foi expedido no dia 17 de agosto - um mês após o primeiro contato entre Afonso e Tokuzumi.
O ex-diretor afirmou que o processo de liberação de licença ambiental para o empreendimento da Estate Plan, na Rua Carijós, no Jardim Alvorada, inaugurou o esquema de brecar o trâmite dos pedidos antes da assinatura de Pavin. "Quando ele (Afonso) me procurou, fui à sala do Dovilio. Lá estava também o Eugênio Voltarelli. Perguntei sobre o processo da Estate Plan e eles me disseram que só iriam liberar se ‘pingasse' dinheiro para campanha. Voltei à minha sala e disse ao empresário que ele estava ‘premiado'", contou Tokuzumi.

O ex-diretor revelou que Afonso o confidenciou a contratação de pessoas para destravar o processo no Semasa. "Ele me disse que tinha pagado R$ 30 mil para esses despachantes agilizarem a situação. Tanto que ficou contrariado quando eu repassei o que Dovilio e Eugênio haviam me dito."

O empresário negou ter efetuado pagamento da propina cobrada, mas reconheceu a admissão de representantes para analisar o processo em Santo André. "Minha empresa fica em São Paulo. Não há possibilidade de eu ir para Santo André todos os dias. Contratei uma empresa para fazer isso para mim", disse o empresário, sem revelar o nome dos contratados. "Disse os nomes à polícia."

O empreiteiro criticou a morosidade para emissão do documento para continuidade de seu empreendimento em Santo André - que, até agosto, estava embargado. "É um serviço de péssima qualidade, sofrível".


Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC

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